Défice, desemprego, crise económica, austeridade, são as palavras mais ouvidas nos últimos dias, semanas, meses e até anos (!), e são essas mesmas palavras que descrevem melhor a realidade da sociedade portuguesa, sobretudo a realidade mental.
Sócrates foi e é arrogante, tentando esconder os sucessivos erros de gestão da crise e do próprio país, com políticas de austeridade tardias e praticamente impostas e indiscutíveis que não dão margem de manobra aos partidos da oposição para alterarem as mesmas políticas. Repare-se na estratégia: Sócrates quer fazer um orçamento de estado para agradar à UE, Alemanha, ao seu Governo, ao seu partido político e aos demais associados, quer sejam “boys” quer sejam os “lobbys” (construção civil, grupos monopolistas económicos, consultorias, etc) ou seja, poucos ou ninguém acreditam que o Governo socialista tenha verdadeiro sentido de dever total, em que a população e o país estejam a frente de tudo e de todos. Acredito que governe para melhorar o país, mas esse caminho é sempre longo, pois antes é preciso agradar a interesses e pessoas.
A verdadeira questão é que desde que tenho consciência política e cívica suficientemente madura (a partir do 1º Governo de Guterres) que vejo a falta de sentido de dever total, quer sejam governos PS (Guterres e Sócrates) quer sejam governos PSD (Durão Barroso, Santana Lopes) todos foram governos incapazes de modernizar e reformular o Estado (Social), de definir políticas concretas para a Saúde, Educação, Agricultura, Pescas e Ordenamento do Território, entre outros, e essa falta de coragem/capacidade aliado a “tradição” de despesismo e favorecimento de grupos económicos maiores, outros “lobbys” e “boys” trouxeram Portugal até ao Estado de hoje. Repito, não foi um governo, foram todos.
Para se chegar ao topo da pirâmide é preciso (na maior parte das vezes) começar pela base: a base serão as Juntas de Freguesias, Câmaras Municipais e Institutos. E como no topo, os vícios políticos estão instalados, onde o favorecimento, tráfico de influências, desvio de verbas, despesismo, gastos sem sentido ou projectos, obras e políticas erradas se acumulam contribuindo para a situação actual e para a perda de confiança dos portugueses nos políticos em geral.
Convém referir que não nego a obra das instituições já referidas, do desenvolvimento ocorrido nas últimas décadas a todos os níveis, é notável e deve ser reconhecido, mas a verdade está aí. A geração política que gere o país (a todos os níveis) é na sua maioria da “escola” das décadas de 80 e 90, onde os fundos da UE abundavam e onde pouca imaginação foi utilizada para usar os mesmos fundos. E é aí que se deve mudar as coisas, toda a classe política deve ser renovada, não há e não pode haver insubstituíveis, deve ser eliminada muita da política actual que não tem um sentido social total, devendo-se apenas trabalhar para o cidadão e para a sociedade e esquecer as intrigas, politiquices, associações duvidosas, falta de crítica e auto-critica, deve-se esquecer o partido como se este fosse uma praxe, onde o silêncio e concordância imperam.
Um bom sinal da mudança política seria a responsabilização das pessoas eleitas para todos os cargos públicos, em que todo o mandato seria escrutinado para se saber se a gestão tinha sido correcta, sem desperdício de fundos, desvio de verbas ou a escolha de projectos/políticas. A acontecer ilegalidades estas deviam acarretar sanções, desde a reposição de verbas até à impossibilidade de voltar a exercer um cargo público.
Concluindo, tudo se resume a questão de mentalidades, que têm que ser alteradas, tarefa que deve partir de cada um, mas que pode ser influenciada pela sociedade e nomeadamente pela juventude, política ou apolítica, associativa ou não, juventude que costuma ser o guardião da irreverência, da utopia e do idílico e sobretudo ser o móbil principal para tentar fazer um mundo melhor.
Marcos Correia